7 de novembro de 2013

Boa noite

Na escuridão de uma congelante noite, poucos se aventuravam a passear pelas ruas. Desde que o município havia cortado na iluminação pública nocturna que o medo era a companhia de quem saía de casa depois do Telejornal. Entre os poucos corajosos que desafiavam as trevas, conta-se o protagonista desta história. Destemido como ninguém, louco como poucos, corria pela vila na ânsia de encontrar um café com Benfica TV.
Falamos de João Pedro, regressado aos ares que o viram crescer, exactamente três anos depois de ter fugido com a mulher que o viria a trair com o homem dos gelados
-Malditos portistas!- rosnava a cada balcão quando lhe diziam que ali não havia ninguém do Benfica.
Passeava fulo pelos passeios, fulminava os cães com o olhar e soltava umas caralhadas que só a noite escutava. E como que absorvido pelo triste fado de não ver a equipa do coração, (nem sequer saber quantos tentos o Cardozo já apontara) não reparou que alguém o seguia.
Toninho. Entre pataniscas e copos de vinho, em todos os balcões da vila se dizia cobras e lagartos deste homem. Ninguém lhe ousa falar alto, nem nunca houve alguém capaz de contrariá-lo quando afirma que o Paulo Portas é uma pessoa séria e bem intencionada.
(nota: este Paulo Portas não é o vice-primeiro ministro português, é um primo da cunhada do avô dum gajo que conheci aqui há dias)
Estivera preso por três ocasiões. Dois tiros certeiros custaram-lhe dez anos de vida de liberdade, um assalto mal sucedido a uma sex-shop mais três. Não sai de casa desarmado e todos os que o ousaram contrariar em vida não voltaram para contar!
(só foi uma vez que alguém o contrariou e como essa pessoa depois emigrou para o Luxemburgo, ainda não veio nenhuma vez à terra para poder contar)
Sorte a de João Pedro não se ter apercebido da situação. Qualquer homem daquela vila já pingara as calças de medo se ali estivesse, temendo por não voltar a ver os seus.
Ultrapassada a esquina da Funerária Emílio Vasconselhos Unipessoal Lda. João Pedro, olhou sobre o ombro e viu a temível figura.
Disse-lhe boa noite e seguiu caminho.

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